terça-feira, 24 de abril de 2012

Duas Décadas de Polêmica

    E aí leitores, eu andei super ocupado, mas estava com uma enorme vontade de postar sobre o Damien Hirst, ele é o contestador artista britânico que recentemente recebeu sua primeira e grande retrospectiva na Tate Modern, em Londres, que reservou os próximos meses para sua exposição mais importante do ano. Estarão ali desde seu famoso tubarão no formol (The Physical Impossibility Of Death) até o crânio incrustado com diamantes (For the Love of God), entre outras 70 obras emblemáticas feitas entre os anos 1990 e 2000. montada com plantas e lagartas, e instalação (In and Out of Love) será reapresentada pela primeira vez desde a criação, em 1991.


    Bad Boy do mundo da arte, o britânico ganhou fama em 1988, quando organizou a exposição Freeze em Londres. Era difícil prever que o jovem se tornaria um dos artista contemporâneos mais valorizados e figura central na discussão estética dos últimos 30 anos.


    Hirst tem 46 anos, conseguiu uma proeza que poucos artistas tiveram o prazer, a de alcançar em vida dinheiro com sua arte, e muito dinheiro. O britânico é hoje considerado uma das pessoas mais ricas do Reino Unido, com uma fortuna estimada em 1 bihão de dólares. Este mês, como parte do festival London 2012, um evento cultural que acontecerá em paralelo aos Jogos Olímpicos, Hirst esta com sua exposição na galeria Tate Modern, entre os dias 4 de abril e 9 de setembro. Com curadoria de Ann Gallagher, chefe da coleção de arte britânica da Tate, a retrospectiva de Damien reúne também animais em tanques de formol na qual sempre foi a temática preferida do artista, que gira em torno da morte.


    Criticado por muitos e comprado por outros tantos, Hirst percebeu a lógica financeira que se instalou no mundo artístico e tirou proveito dela. Um dos episódios mais famosos de carreira foi quando realizou um leilão, em 2008, com todas as suas produções inéditas feitas até então. Uma lista com 223 peças foram arrematadas por diversos colecionadores e fundos de investimento. A lei do mercado apareceu logo em seguida: muitas ofertas, preços baixos. Um dia depois do evento, as obras que haviam custado uma fortuna se desvalorizaram.


    Paulo Miyada, que coordena o centro de curadoria no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, acreditava que essa “financeirização” da arte é o grande tema que envolve Hirst. “O preço de uma obra de arte não tem um referencial concreto, não é definido pelo custo dos materiais usados ou pelo tempo que é gasto em sua confecção. Tudo depende de quanto a peça poderá valer no futuro.” Ou seja, não é de hoje que a arte de Hirst assumiu a personalidade de uma ação financeira. Os compradores adquirem a obra pensando em quanto poderão lucrar com ela futuramente, e Hirst sabe, como ninguém, jogar com isso.


    Nascido em Bristol e criado na cidade operária de Leeds, no norte da Inglaterra, em 1973, Damien entrou na Universidade Goldsmiths, em Londres, e, apesar de não ser considerado um aluno brilhante, logo se mostrou um excelente curador. Articulou a exposição Freeze, uma espécie de embrião do Young British Artists, grupo de artistas contemporâneos que estouraram nos anos 1990.


    Para fazer parte de Freeze, Hirst levou uma de suas primeiras concepções, uma mesa giratória onde eram derramados jatos de tinta. Sua obra se destacou e muitos artistas deslancharam antes dele. Foi só ao conhecer Jay Jopling, um marchand de arte, que Hirst se estabeleceu no mercado. Jopling Financiou obras importantes do artista, como A Thousand Years (1990), uma peça feita com uma cabeça podre de vaca rodeada de moscas. A peça foi comprada por Charles Saatchi, um colecionador dos anos 1990, que posteriormente possibilitou a confecção de outro ícone de Hirst: a escultura de tubarão, Seu tão famoso, Tubarão mergulhado no formol, uma de suas obras mais ousadas e curiosas, chamada The Physical Impossibility Of Death in the Mind of Someone Living (1991).


“GOSTO DA IDEIA DE UMA COISA DESCREVENDO UM SENTIMENTO”


    Em entrevista ao jornalista americano Calvin Tomkins, da revista The New Yorker, Hirst afirmou que originalmente pretendia fazer uma pintura, mas achou mais impactante mostrar o animal ao vivo. “Gosto da idéia de uma coisa descrever um sentimento”, afirmou. Para colocar um tubarão em um tanque de formol, ele contou com a ajuda de um surfista australiano. “Naquela época, eu mesmo fazia tudo”, declarou em entrevista a Tomkins.


    E é aí que entra um dos pontos mais polêmicos de seu trabalho, atualmente, Hirst conta com uma equipe gigantesca, que o ajuda a confeccionar e produzir todas as suas peças. Assim como o artista americano Jeff Koons, também criticado por manter uma legião de ajudantes, Hirst já recebeu alfinetadas de diversos nomes da arte. No começo deste ano, por exemplo, o artista David Hockney, ao abrir uma exposição na Royal Academy of Arts, criticou Hirst por apenas participar da concepção de seu trabalha e não executá-lo. Paulo Miyada não concorda que esse seja um ponto central na discussão. “Nós já passamos por essa polêmica. Os renascentistas tinham ateliês com uma grande quantidade de auxiliares.” Para Miyada, o debate não faz sentido, já que ninguém cobra de que um estilista costure todas as suas roupas ou que um arquiteto construa um prédio com as próprias mãos.

Acima: Armário de remédios (Medicine Cabinet)
    Damien Hirts parece não ligar muito para o que dizem sobre seu respeito. Nunca escondeu seu jeito expansivo. Hoje, casado e pai de três filhos, vive mais recluso, entre Londres e Devon. No entanto, sua habilidade para os negócios e o burburinho que ele ainda causa no mundo da arte não o deixam sair de cena.