Dezembro já passou, mas essa edição foi uma das mais vendidas em toda historia da ELLE, Além de toda a repercussão na mídia internacional, o ensaio produzido
aqui no Brasil com fotos de Fábio Bartelt foi parar na capa e no recheio
da ELLE Bulgária de fevereiro. O foco nesta edição foi mostrar como é a
vida de Lea T. a modelo transsexual que vem conquistando espaço no mundo
fashion cada vez mais, com quase 30 anos, Lea está no auge de sua carreira, e
esta no ranking das 50 modelos mais disputadas do momento.
Lea T. A modelo apadrinhada pelo estilista da Givenchy, Riccardo Tisci, fala sobre seus obstáculos e suas vitorias na vida e no mundo da moda.
“Ela é uma mulher frágil e muito romântica. Não é o clássico
clichê de transexual: tem uma sensualidade delicada.
Lea não tem estrelismo. É uma pessoa focada, comprometida e
doce.
Lea simboliza a quebra absoluta de barreiras entre os
gêneros. Espero que todos aprendam com sua postura digna.
Além de estonteante, ela é uma ótima modelo. Tem atitude
para estabelecer um diálogo visual com o fotografo.”
Perto de completar 30
anos, Lea ainda é um rosto novo entre as modelos. Sem nenhuma experiência
anterior na frente das câmeras, foi estrela da campanha de inverno 2010 da Givenchy.
Mesmo não se achando bonita, participou de shootings de algumas das principais
revistas de moda do mundo. É mulher, mas nasceu em um corpo de homem.
A vida de Lea T.
sempre foi uma contradição. Mas, para o mundo da moda, que pouco a pouco vem
brigando contra a mesmice, essas particularidades fizeram dela uma figura
especial, quase única. Diversas campanhas tentam derrubar os limites de idade e
sexo, seguindo tendências como o ageless e o genderless. É como se Lea T.
pudesse quebrar todas as barreiras de uma vez só, mesmo que nunca tenha
escolhido tal missão.
“Nenhum olheiro me parou na rua”, diz Lea. “Só
comecei na carreira por que um amigo me deu uma chance.” O amigo em questão é
Riccardo Tisci, escolhido como o cabeça da Givenchy em 2005 para modernizar a
Maison. Ele conhecia Lea havia mais de uma década, desde quando ainda era
apenas um aspirante a estilista, e a chamou para ser sua assistente em Paris. A parceria não
durou muito. “Tisci tinha medo de me ofender ao me mandar fazer as coisas”,
conta. “E eu me ofendia mesmo!” Virou, então, a modelo de prova de roupas do
estilista, que a considerava “o corpo perfeito”. Em 2010, Tisci colocou suas
musas Maria Carla Bosconi e Lea T. na mesma campanha. A ação foi aclamada pela
critica por sua diversidade.
No dia seguinte,
Lea estava agendada para fotografar para a Vogue Paris. Fã de uma boa polêmica,
Carine Roitfeld, diretora de redação da revista na época, sugeriu que Lea
posasse nua segurando seu “material extra”. “Estava aflita, pois Carine era
séria e eu queria muito agradar. Era insegura e me sentia horrível”, conta.
“Depois de vários cliques, Carine enfim sorriu e me mostrou as imagens na tela
do computador. Comecei a chorar e nos abraçamos”.
De lá para cá, Lea vem fazendo da ousadia a sua profissão.
Saiu na capa da revista inglesa Love Magazine beijando Kate Moss (Lea T. e Kate Moss para Love Magazine) e foi garota-propaganda
da Blue Man usando biquíni. “Ninguém acreditava que as fotos dariam certo”,
diz. Mas deu: “É fácil fotografar Lea. Não é qualquer modelo que consegue
entrar em um biquíni e ficar sexy sem ser vulgar”, declara à ELLE Brasil Terry
Richardson, o responsável pelos cliques. (Campanha da Blue Man, usando biquíni) Lea batalha bastante, ela é uma vencedora.
Lea T. personifica essa tendência do mundo da moda que estão cada vez derrubando os limites de idade e gênero e sexo, o que é bem bacana.
FONTE: ELLE Brasil
“MEXA-SE, MULHER,
MEXA-SE!”
Riccardo Tisci
acompanhou a amiga no shooting de ELLE Brasil. A dupla chegou ao estúdio
parecendo um casal moderno: ela de vestido nude, com o sutiã à mostra e ankle
boots, e ele, de camisa xadrez, óculos Ray-Ban e cabelos compridos e
bagunçados. Ela, animada e falante. Ele, tímido e quieto. Foram ao camarim, onde
fizeram apenas uma exigência, e de fundo sustentável: copos de vidro, em vez de
plástico. Na mala do estilista, dois looks da Givenchy especialmente escolhidos
por ele para a amiga ser fotografada. Ela chega com o primeiro: um conjunto
estampado. Tisci a dirige de maneira informal: “Abaixa o braço, vira o rosto”. Ela
segue confiante. Não parece a mesma mulher que, horas antes, dissera não ser
bonita.
As fotos
finalmente estão prontas no computador. “Riiick”, ela chama o amigo para ver.
“Bella, bellissima, afirma Tisci ao ver o resultado. “Lea era tão dura no
começo”, diz, rindo. “No primeiro shooting, tínhamos que falar: ‘Mexa-se,
mulher, mexa-se!’.” Lea deixou para trás o desconforto que tinha com os
holofotes e hoje parece se divertir com a câmera. A equipe já tem a foto
perfeita, mas ela não se dá por satisfeita. Continua fazendo poses. Tisci acha
graça. “Finito, Lea!”, diz, brincando, mexendo as mãos como fazem os italianos.
“agora ela não quer mais parar”, fala Riccardo. Ao que parece, Lea não vai
parar tão cedo.
MODA:
“Não foi simples
para Riccardo me colocar na campanha da Givenchy. Ele nunca me falou de forma
clara sobre o processo, lento e burocrático, mas sei que lutou pela idéia. Eu era
– e sempre serei – uma escolha arriscada. Nenhum dos meus trabalhos veio
facilmente. Preciso batalhar e insistir mais para convencer as pessoas. Sou uma
lutadora e não fujo da briga, mas isso me chateia. Por que usar modelos
transexuais não pode ser algo normal? Quando a Givenchy me deu carta branca, eu
disse ao Riccardo: ‘Só faço essas fotos se puder contar a minha história’. Ele topou
na hora.”
PRECONCEITO:
“Nós, transexuais,
ainda estamos desprotegidas perante a lei. Em uma viagem, ao desembarcar em um
aeroporto, uma agente da policia me parou para a revista. Quando ele se
aproximou de mim, seu colega, que estava conferindo meu passaporte, gritou: ‘Não
ponha as mãos nisso! Não é uma mulher’. Como não sou uma mulher? Se é
exatamente assim que me sinto? E como fazê-lo entender que eu não quero ser
revistada por um homens? É uma invasão ao meu corpo, um desrespeito. Não foi fácil
para meus pais aceitarem minha decisão de mudar de sexo. Minha mãe chorou por
dias. Não por falta de consideração, mas por medo, ela já previa os perigos,
preconceitos e obstáculos que eu enfrentaria. Que mãe deseja isso para um
filho?
AMOR:
“Essa é uma parte
complicada da minha vida. Cresci sendo rejeitada, vista como uma curiosidade. Acho
que fiquei um pouco traumatizada com as relações humanas, por isso, sou muito solitária.
Já me apaixonei, sofri horrores... Nunca tive bons relacionamentos, talvez por não
conseguir me entregar tão facilmente. Meus amigos dizem que sou fria, mas será
que seu eu que afasto os outros ou são eles que querem distancia de mim? Vejo
que as pessoas não buscam mais o amor. Elas estão atrás de sexo. E eu acho que
ele precisa ser feito com respeito. No momento, estou solteira – meu único
companheiro é meu cachorrinho de estimação, o Obi – e não fico à espera do príncipe
encantado.”
CIRURGIAS:
“Decidir pela
operação de mudança de sexo foi um dos grandes passos para a minha felicidade. O
que a torna melhor ainda é que a farei por mim e por mais ninguém! As pessoas
me perguntam, quase em tom de cobrança, quando, onde e como vou realizar o
procedimento. Ainda estou em fase de pesquisa. Quero escolher o medico com
calma. É algo muito dolorido, e não apenas fisicamente, sabe? Ao longo dos
anos, já fiz três outras plásticas: reduzi o nariz, raspei um osso proeminente
da testa (Lea tem uma cicatriz na linda do cabelo) e coloquei silicone nos
seios. Primeiro, coloquei próteses de 270 ml, que me deixaram com peitos
enormes, e nenhuma roupa caía bem! Não gostei. Ai troquei por outras menores,
de 220 ml.”
FUTURO:
“Minha lista de
sonhos tem projetos pessoais, como ser mãe. Espero que, assim que atingir a independência
financeira, eu possa adotar uma criança. Outra idéia seria colaborar com a
causa dos transexuais de forma mais efetiva, talvez criando uma fundação.”
FONTE: ELLE Brasil
Amei o post >< Super interessante e bem feito, parabéns :D
ResponderExcluiradorei o post parabéns *O*
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